"Os gatos sabem como obter comida sem esforço, abrigo sem confinamento e amor sem castigo."
(W.L.George)

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[terça-feira, maio 30, 2006]

O Gato Condecorado


Daguerre era um gato indomável;
às vezes na tranquilidade chamava-o de Corcel Negro (se ao menos negro fosse...). Não era de ninguém, linda criatura de bigodes. Sim, estes eram grandes, nunca maiores bigodes vi. Quando cheguei naquela agência ele já perambulava pelos beirais, mas ninguém dara crédito ao mundano. Já no segundo dia de trabalho cheguei com dois potinhos e ração. Três dias depois o danado já reinava mesas, cadeiras e nichos naquela outrora comportada agência publicitária.


Gato safo, Daguerre era o tal.
Das noites chegava
com seu curto miau,
importância não dava
ao entrar no quintal
da agência burlava
o fechado beiral,
da janela se atirava.
Daguerre era o tal.

Seu nome vinha de Daguerre, um dos inventores da fotografia, naquele momento estava fissurado pelo assunto, e ele, todo em tons de branco, cinza e preto, parecia uma foto antiga. Foi o que bastou: Daguerre.
Descia pelo paredão, e entrava faceiro janela adentro. Dava um miado curto pra avisar que chegou, para colocar mais água no feijão. Era folgado, malandro, sem-vergonha mesmo. Caminhava pelas mesas, ninguém reclamava, ele era rei. Gato de ninguém, gato de todos. Atravessava a agência pelas mesas e estantes. E finalmente se refestelava no encosto da cadeira de visitas do Viegas. Que ninguém o incomodasse ali, pois dali só saía no final do expediente para pernaltar pelos telhados em busca de uma gata para namorar.


de preto e branco pintado,
com sol ou nublado
de frente ou de lado
chegava folgado;
silêncio ou num brado
alegre ou calado
recebia o chegado
gato condecorado.


Descobri à posteriori que gato sem dono não era, tinha cuidados e refinos, era companheiro do velho do prédio ao lado, velho pracinha que lutara na guerra na queda do Monte, e caminhava capenga no bairro com suas lembranças de fuzís e estalos das trincheiras, com sentimentos de pezar fraterno e glória patriótica. Dizem até que em momentos de delírio e amor paterno ao bichano, à ele dera sua medalha por honra e méritos de campanha.
Mas certo dia lá não voltou o arisco gato, passou dia, passou noite. Passou semana. Logo descobrimos o fim brutal.
Os desabrigados do Largo arrumaram um jeito de amenizar sua necessidade, selvageria bestial, vitimavam os gatos da região na calada da noite, na conivência da patrulha. Ficamos sem Daguerre. Muitos choraram. O Pracinha também; dizem, não sei ao certo, que não tardou foi-se também. Ganhou a guerra, a solidão o velho não venceu.


Não escapou o arisco,
é a fome do desabrigo,
tamanha calamidade.
o pobre virou petisco,
saciando o mendigo
na agrura da necessidade.



Em memória de Venceslau, o pracinha; e Daguerre, o gato condecorado.



por Ôbèron * 10:59 da manhã


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Visita Noturna

É como eu me lembro da primeira noite em que um gato dormiu na minha cama. E eu nunca vou ter certeza se acontecia de fato ou se eu sonhei isso na infância. A lembrança é de um gato branco e preto, estilo Frajola. Tínhamos mudado para aquela casa havia poucos dias e ainda não tinha vidros em todas as janelas. Lembro de acordar uma manhã bem cedo e ver um bichano escapando por uma janela. No outro dia acordei e ele ainda estava dormindo na cama comigo, voltei a dormir. Quando acordei, ele já tinha ido embora... E não apareceu mais. Lembro de tentar acordar mais cedo vários dias, mas o gato não voltou mais. Talvez porque, então, já tinham colocado os devidos vidros em todas as janelas.



por Lia Drumond * 9:23 da manhã


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[segunda-feira, maio 29, 2006]

Morango

Era para chamar Ruivão. Mestiço de persa com vira-lata. Todinho cor de laranja. Uma bolinha de pêlos bem fofa e linda. Chegou depois do Capitão, que era um filhotão também. Logo fizeram uma bela amizade, onde estava um, estava o outro. Mas ele não gostava de seu nome... Não havia nada que o fizesse olhar para mim quando eu chamava: Ruivão! Era uma chatice, um nome tão apropriado para aquele pedaço ruivo de fofura e lindeza.

Sempre assisti muito a programação infantil, lembro que na época tinha um personagem do programa da Eliana que cantava * Meu morango, meu morango lango*, e eu estava com a terrível mania de cantar esse refrão (mania que sempre tive com várias outras músicas bestas). Certa tarde eu estava pintando as paredes de um cômodo da casa e cantando igual uma louca: Meu morango, meu morango lango lulu, Meeeeu moraaango, meu morango lango lulu... E o Ruivão, que tinha uns três meses então, não saia de perto de mim. E eu observei que toda a vez que toda vez que gritava *Morango*, ele olhava. Parei de cantar e comecei a chamar: Morangoooo, Morangooooo. E ele olhava todas as vezes. Fui para o quintal e chamei: Morangoooo. Ele veio até mim, miando e ronronando de felicidade.

Foi então que eu percebi que ele queria ter o nome da minha fruta favorita, e não o nome de um personagem que o deixaria com a personalidade clichê. Ele escolheu ser chamado de Morango. E era uma delícia apertar, brincar com ele. Era uma mala velha, se abria pra todo mundo, adorava carinho na barriga. E era um contorcionista. Eu não acreditei quando o vi escapar para a gandaia certa noite passando através de uma fresta de um vitraux que estava emperrado. Ele conseguiu passar o corpo gordo de quase cinco quilos por uma fresta de dois centímetros e meio. E fugia pra gandaia. Sempre voltava quando o dia estava amanhecendo e deitava na minha cama. De preferência, em cima de mim...




por Lia Drumond * 10:55 da manhã


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[sexta-feira, maio 19, 2006]

O PRIMEIRO PARTO


A Chu foi uma gata muito especial, apesar de hoje desfrutar do céu de Bast, será sempre lembrada e reverenciada como uma das melhores amigas que eu tive. Logo que me separei e voltei pra casa da mamãe, levei comigo um gato muito especial: Capitão. Um elegante albino, cuja história eu conto em outra oportunidade. Um dia o Capitão morreu. E eu, inconsolável, passei num Pet Shop e vi um filhote albino pra adoção. Não pensei duas vezes. Levei pra casa. Eu já tinha o Faísca nessa época, e ele era um filhotão também. Achei que com o novo filhote ele não sentiria muito a falta do Capitão. Que nada! O filhote era a gata mais briguenta que eu já tive. Ela não pesava nem meio quilo, mas fazia um barulho igual ao de uma fera. Batia muito no Faísca nas primeiras semanas. Depois se apaixonaram e viveram felizes, um belo casal.

Quando ficou adulta, ela era a gata mais linda do mundo. Recebeu o nome de Chu graças ao rabo de trovão que ela tinha igual ao do Pikachu. Ela parecia adorar seu nome. Toda branquinha, olhos azuis, pêlos compridos, miúda e muito ágil. Eu a vi colocar um cachorro Huski pra correr, e a vi muitas vezes bater em muitos cachorros da vizinhança. Ela era o terror dos cães que ficavam presos, ela sentia um prazer sádico em passear nos muros dessas casas só para ver os coitados se esgoelarem de tanto latir. Era uma bichinha muito arisca. Não gostava de colo, não deixava que estranhos a acariciassem. Caçava ratos, passarinhos e até um morcego ela trouxe pra minha cama, de presente. Eu nunca brigava com ela, não reprimia seu extinto caçador. Achava até muito bacana ela preservar seu espírito selvagem. Ela se achava a própria tigresa albina. E se achava a dona da casa. Até hoje, na casa da minha mãe, é possível ver as marcas de suas unhas na porta de um guarda-roupa. Ela subia lá para ter sossego, para ficar acima das chatices cotidianas que a vida com humanos causa.

E então ela ficou prenhe da primeira cria. O pai era o Faísca, eu acho. Na verdade eu nunca terei certeza. De todas as crias que ela deu, não nasceu nenhum filhote com cor. Todos eram albinos, como ela. E fora, ao todo, 19 filhotes. Eu vi todos nascerem. É incrível como os animais sentem o quanto gostamos deles. Ela era super antisocial, não era o tipo carente, era muito independente, mas quando percebeu que seria mãe, voltou a se aproximar de mim. E, no dia que ela daria a luz, eu já sabia. Não sei explicar essa percepção que tenho, mas sei quando as gatas vão parir. Eu sabia. Ela passou a noite toda na minha cama, eu sabia que a hora estava chegando. Quando a bolsa estourou, ela enlouqueceu e queria porque queria subir no guarda-roupa. Não teve Cristo que me fizesse impedi-la. Não teve jeito. Ela subiu e não sairia dali até que os filhotes nascessem.
Eu fiz o que podia: Subi numa parte do guarda-roupa e tentei ajudá-la da melhor maneira possível. E então nasceram os quatro fabulosos primeiros filhotes de Chu. Não foi nada difícil arrumar donos para eles. Não sei por que as pessoas preferem gatos brancos, mas todos já estavam prometidos. E fizeram muitos lares felizes, como a Chu fazia o meu.



por Lia Drumond * 10:21 da manhã


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